Patricia Sousa
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Recentemente, presenciamos, ainda que à distância, duas grandes tragédias que mobilizaram muita gente: o desastre em Mariana e o atento terrorista em Paris. E a primeira coisa que fazemos, depois de passado o primeiro impacto, é nos indignarmos com a falta de bom senso, cuidado e amor ao próximo dos responsáveis.
Mas analisando mais a fundo, essa indignação só serve para mascarar e nos “desculpar” pela nossa própria negligência, dia a dia. Cada um de nós é também um pouco responsável por cada um desses fatos. Somos ávidos consumidores de metais e nem sequer procuramos saber de onde vem, como é extraído, etc. E as mineradoras só existem e só estão instaladas onde estão porque existe demanda para o produto. Você pode pensar nesse momento que o fato de você consumir metal nada tem a ver com a irresponsabilidade da mineradora. Na verdade, tem sim. Porque se não existe fiscalização adequada, se não existem normas regulatórias e de proteção ambiental e social severas, isso se deve à falta de comprometimento dos políticos que estão no poder, que não querem e não vão regulamentar nada porque simplesmente receberam dinheiro dessas mesmas mineradoras para suas campanhas. E quem os colocou no poder? Nós mesmos. Bingo! Culpa nossa!
Você pode, então, pensar que se acha que não tem nada a ver com o desastre em Mariana, muito menos com o massacre de Paris. Tem sim. Esse tipo de extremismo só acontece porque existem situações de pobreza, falta de oportunidade e segregação, que abrem brechas para que esses jovens sejam recrutados para o crime. Assim é em Paris, assim é no Brasil, quando falamos de tráfico, roubo, sequestro, etc. Comparar o crime do Brasil com o terrorismo no resto do mundo é, sim, pertinente. Não há diferença alguma, exceto pelo fato de que um homem bomba mata várias pessoas de uma única vez e se mata, enquanto um outro bandido qualquer tende a fazer diversas vítimas, uma a uma, ao longo de toda uma vida, muitas vezes superando o número de assassinatos de um ataque terrorista.
Mas o que você tem a ver com isso? Vivemos em um mundo com fronteiras, onde cada um se acha dono de seu território, quando, na verdade, estamos aqui de passagem e o Planeta Terra é para nós apenas emprestado. Ninguém é dono de nada. Segregamos. Separamos o rico do pobre, o favelado do burguês e até o petralha do coxinha. E quando fazemos isso, damos oportunidade para brigas, discussões, agressões e, quem sabe, até mortes. É aí que entra o extremismo. E talvez no Brasil nosso extremismo não seja assim tão extremo, mas nada nos separa do resto do mundo nesse quesito. O que nos faz melhores do que outro ser humano qualquer, seja ele da raça, cor, religião, nacionalidade ou até time de futebol que for? No fim, somos todos humanos, da mesma raça e jamais deveríamos nos dividir em grupos, fossem eles quais fossem.
Assim, embaixo das unhas de cada ser humano, de qualquer parte do mundo, há também muita lama e sangue.
Patricia Sousa é Jornalista e Editora do Jornal O Serigráfico
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