Claudilei Simões de Sousa

Mara de Paula Giacomeli

A Saga de Clodoaldo Crocodilo – Parte 7: O Pântano nunca dorme

— Alô, Morcego, é o Clodoaldo.

— Fala, Clodoaldo, meu cliente predileto, adorei a caixa de uísque que você me mandou.

— Morcego, estou em emergência, o pessoal dos assuntos internos está aqui no escritório varrendo tudo — explode o inquieto Crocodilo.

Bem-vinda, querida leitora, e bem-vindo, querido leitor. Esta não é uma edição qualquer do nosso glorioso Jornal O Serigráfico. É dezembro. Clima de encerramento, de balanço, de retrospectiva. Um mês em que o ano cobra suas dívidas — e nem sempre aceita parcelamento…

E se já não bastasse todo esse clima, nossa Fábula está em ebulição. Na última edição, o Crocodilo já não cabia dentro de si; o desconforto e a insegurança eram maiores do que seu corpanzil.

O Doutor Hermenegildo Morcego era um famoso advogado renomado, da banca Morcego & Morcego Associados, homem de confiança do Crocodilo. Confiança construída à base de presentes, favores e uma “singela” contribuição mensal que garantia blindagem jurídica irrestrita.

— Clodoaldo, fica tranquilo, estamos no controle de tudo — respondeu o Doutor Morcego.

— Mas Morcego, o pessoal dos Assuntos Internos está varrendo o escritório, falando com cada funcionário.

— Da forma como as coisas estão preparadas, basta você repetir o mantra: “Eu não sabia de nada”, pois nada tem sua assinatura, nada está assinado por você e nada está no seu nome — recitou o Dr. Hermenegildo.

— Onde você está? — perguntou o Morcego.

— No banheiro. O Avelino está sendo alvejado de perguntas. Eu saí para falar com você. Parecem formigas no açúcar, estão vasculhando tudo — balbuciou Clodoaldo.

— E você? Onde está? — perguntou o Crocodilo.

— Indo para o aeroporto. Preciso atender um cliente na Suíça. Devo ficar por lá um bom tempo… e acho que meu telefone não funciona muito bem fora do país. — Alô, alô, alô…? Morcego???

E o silêncio foi interrompido pela mensagem da caixa postal, após tentar ligar de novo: “Você ligou para Hermenegildo Morcego…”

— Que filho da mãe, me largou na mão depois de todo esse tempo! — praguejou Clodoaldo.

Naquele momento, Jovina Pantera já aguardava à porta do banheiro.

— Clodoaldo, estou esperando para darmos sequência à nossa conversa.

— Claro, Jovina. Estou à sua disposição.

E Jovina foi cirúrgica: Relacionamentos impróprios. Comando autoritário. Férias manipuladas. Atestados adulterados. Compras incoerentes. Caixa distorcido. Despesas sem lastro.

Parecia ter um mapa completo do pântano.

E Clodoaldo… impecável. Não gaguejou. Não suou. Não desviou o olhar.

— Nossa… — Que absurdo… — Estou chocado… — Para mim, isso é uma surpresa…

E com a maior cara lavada, com toda desfaçatez, digna de um Oscar de Hollywood, Clodoaldo fazia cara de surpresa, cara de espanto, não gaguejava, não tremia a voz, não alterava a pupila dos olhos, apenas respondia, com a cara mais lavada do mundo.

Resumindo, após quase duas horas de inquirições e perguntas, o mantra ecoou na sala…

— Eu não sabia de nada… — foi a frase que ficou pairando na sala.

Jovina já estava cansada e precisava mais do que estratégia para pegar o ladino no pulo, pois com sua experiência sabia que o seboso, mais liso que quiabo, não tinha deixado suas impressões digitais em nada. Não tinha assinatura, não tinha documento.

A Pantera encerrou seu expediente. Mais do que cansada, estava enojada. Estava lidando com um psicopata contumaz, com sérios traços de falta de caráter, um psicopata corporativo experiente. Mas também sabia: sem provas concretas, o sistema protege o predador. Mas não podia se deixar levar pela empolgação e colocar tudo a perder.

Jovina conhecia aquele tipo. Liso. Frio. Preparado. Nada assinado. Nada comprovado. Nada conclusivo.

Aquela seria uma longa noite para todos. Para Clodoaldo, um jogo de xadrez, engendrado há anos. Já tinha se preparado para aquela contenda e não poderia fazer um movimento errado.

Para Jovina, que, apesar de fatos e denúncias, não tinha conseguido reunir provas concretas para aniquilar o facínora. Não queria colocar sua carreira e seu trabalho em jogo, correndo o risco de perder uma causa no campo jurídico por não ter um caso concreto em mãos.

Mas não eram só os dois que não dormiam naquela noite. Todos os colaboradores do escritório estavam em polvorosa. Seria aquela a chance de se livrar do Crocodilo? Como ficaria a vida pessoal de cada um com toda essa confusão?

Doutora Polenta já havia pedido demissão. Avelino Avestruz fora internado às pressas — um mal-estar conveniente. E Haroldo Saruê, ajoelhado ao pé da cama do filho, apenas pedia misericórdia.

Na manhã seguinte, a sorte estava lançada. Todos chegaram cedo ao escritório, inclusive Jovina e sua equipe.

Duas peças faltavam no quebra-cabeça: Arlindo Avestruz, de atestado médico, se recuperava de seu piripaque. E Clodoaldo Crocodilo, que não tinha dado o ar da graça.

O silêncio foi quebrado pela entrada de um jovem executivo, terno impecável, pasta na mão.

— Por gentileza, quem é a senhora Jovina Pantera? — indagou o jovem.

— Sou eu.

— Represento o escritório Morcego & Morcego Associados. Trago uma notificação extrajudicial. Meu cliente, Clodoaldo Crocodilo, sofreu ontem grave assédio

moral e ilações levianas sobre sua conduta. Vamos discutir isso nos tribunais. Tenha um bom dia.

E saiu.

Jovina sabia que aquele era o contra-ataque daquele que tinha muito para explicar e nada explicou. Seria uma longa jornada. Pelo menos parte dos problemas estava resolvida: não teria mais que pensar em como se livrar daquela personagem incômoda.

Após o episódio, Jovina reuniu todos os colaboradores e comunicou a movimentação, aproveitando também para comunicar o nome do novo gestor da unidade.

— Pelos serviços prestados, pela colaboração, pelo caráter e boa reputação que foi citada por todos, quero comunicar que Haroldo Saruê será o novo gestor. Nós estaremos apoiando Haroldo no seu início e fornecendo a ele todo o suporte necessário para exercer essa função.

Ninguém questionou, todos se olharam, todos assentiram com a cabeça e com o coração. O sentimento era unânime. Nenhuma palavra foi dita; todos sabiam, como que por comunicação telepática, o porquê Haroldo tinha sido nomeado, e era puro consenso.

Aquele seria o início de um período próspero e diferente em Poeirópolis.

E longe dali, alguns dias depois, em um suntuoso edifício, a recepcionista recebia uma figura imponente, em seu terno bem-cortado, camisa de linho e gravata combinando.

— Bom dia, em que posso ajudar? — pergunta a cordial recepcionista.

— Eu sou o novo diretor da unidade — respondeu a figura.

— Parabéns! Sucesso! Como é seu nome?

— Clodoaldo… Clodoaldo Crocodilo. Reflexões para você: Quantos Clodoaldos não caem… apenas mudam de endereço?

Quantos sistemas punem o erro, mas premiam a esperteza?

Quantos Haroldos fazem o certo — e ainda assim não veem justiça completa?

E quantas empresas confundem silêncio com inocência?

Nos vemos no próximo ano. Feliz Natal, ótimo Ano Novo.

Eduardo Levy Cotes, Consultor de Empresas Administrador Coaching

Especialista em Marketing Vendas Treinamentos Palestrante

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E-mail : atendimento@mgdmarketing.com.br

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