“Imprimir um trabalho de cromia de alta qualidade é motivo de orgulho. Mas o que é necessário para alcançar esse resultado?”
Spoiler: você usa tiras de controle?
Se pensarmos que o cliente quer apenas uma imagem bonita, ajeita-se com um pouco de prática e entrega-se o trabalho. Agora, se o cliente começar a especificar a cor do logo que fica impressa sobreposta na foto e no topo da imagem, começa a complicar. Se o cliente quiser que a cor do céu ou da grama na imagem, ou o tom de pele da pessoa que aparece na imagem, estejam mais exatos, aí “o bicho pega”.
Vamos partir do ponto em que o cliente não é “tão pentelho”. Você tem que acertar algumas cores no meio da imagem. E agora? Na tela da semana passada, uma cor que estava lá ficou boa é só dar saída de novo? Vai ficar igualzinho? — Esta é a primeira pergunta crucial.
Bom, geralmente a imagem, quando reticulada e com saída na transparência, fotografada na tela e revelada, fica mais escura do que está na tela do computador. Quem tem experiência compensa nas curvas. Como deve ser essa compensação? Em que faixas tonais compensar, rebaixar tudo ou diferenciar conforme a imagem, ou diferenciar conforme a porcentagem da faixa tonal? E, a cereja no topo do bolo, como quantificar isso?
As tintas utilizadas (por exemplo, a quadricromia CMYK) vêm prontas do fabricante, certo? Ah, não? Não dá para vir pronta porque o fabricante não sabe qual malha de tela serigráfica você vai usar. E a cor certamente sai diferente com uma tela de 77 fios, 54 fios, por exemplo. Ou se você usar sobre uma malha de algodão versus uma malha PV. Ou ainda se as puxadas de rodo forem feitas de forma diferente. Então, como é a característica da sua impressão em relação às cores? Você calibra as cores das tintas antes de começar a trabalhar?
O trabalho sobre a imagem está na pré-impressão; o trabalho na impressão propriamente dita resume-se a o impressor fazer sempre absolutamente igual, eliminando variáveis de produção. Dito isso, em função da primeira e da última perguntas acima, vamos tentar quantificar a característica da impressão. A imagem acima (uma escala chamada “testform”) já dá uma ideia do ponto de partida. Considerando que as cores das tintas estejam calibradas (corresponde a 100% da retícula, ou seja, chapado), amostras reticuladas com valores de 0% a 100% quando imprimidas vão indicar quanto por cento sai quando você imprime, por exemplo, 50%. A diferença entre os 50% nominais e a intensidade impressa é, de forma trivial, chamada de ganho de ponto.
Antes de amaldiçoar o processo, deixe-me explicar que TODOS os processos gráficos, tradicionais ou digitais, apresentam ganho de ponto, ou, por outro nome, TVI (tone value increase). Não gosto muito nem da palavra “ganho” nem de “increase” (aumento), porque certos processos, como serigrafia e fotografia, podem apresentar ganho negativo ou perda, especialmente nas áreas claras a serem reproduzidas (até cerca de 25%).
A forma mais precisa de quantificar é com um densitômetro, o que nem sempre é acessível pelo custo. Mas é possível usar um gabarito para comparação visual, do tipo que a Kodak fornecia na era da fotografia em PB.
A dica para testar este método é usar iluminação colorida com cores complementares às das tintas de cada escala. Por exemplo, o baixo contraste dos amarelos da escala dificulta a comparação entre os tons nas porcentagens; sob luz azul, o contraste aumenta drasticamente, permitindo uma avaliação mais precisa. O magenta deve ser avaliado sob luz verde, e o ciano sob luz vermelha. O preto deve ser avaliado sob luz branca.
A Correção
imagem: Adobe (manual Photoshop)
Digamos que você determinou as porcentagens e traçou uma curva em um quadriculado, com as porcentagens nominais na horizontal e o valor medido pela comparação visual ou pela densitometria de reflexão na vertical. Você pode usar um software de planilha, como MS Excel ou LibreOffice Calc, para facilitar.
Suponha que você tenha obtido 80% em uma cor, enquanto a saída foi 50%.
Curvas medidas CMYK e curvas-ob- jetivo de 16 e 20%
A norma ISO de reprodução gráfica (chamada ABNT NBR 12.647) recomenda que as cores sejam corrigidas contemplando um pequeno ganho, em vez de corrigir para zero. No gráfico acima desenhei duas curvas: uma de ganho = 20% em vermelho e outra de ganho = 16% em preto, para estabelecer uma faixa de trabalho. O critério de escolha é a refletividade do branco de fundo.
Corrigindo a curva do Ciano para uma das referências
O que precisa ser feito (por exemplo, no Adobe Photoshop ou no editor GIMP) é estabelecer a correção nas imagens a produzir daqui para frente — pode ser na ferramenta de Curvas ou de Níveis. Isso vai alterar a visualização, portanto faça isso em camadas duplicadas e com as cores separadas ANTES de fazer a reticulação da imagem. Digamos que você queira a imagem com ganho de 16%: trace uma vertical a partir de cada tonalidade (eixo x) até a curva de referência de 16% do gráfico; a partir daí trace uma horizontal cruzando com a curva da cor a ser corrigida. Desse ponto, trace uma vertical descendente e determine a porcentagem de saída na ferramenta Curvas.
Este procedimento pode ser feito sobre canais de cor, sobre camadas da imagem ou ainda sobre “curvas de transferência” se a saída do editor de imagem (ou da controladora de impressão “RIP”) for para uma impressora PS. Também é possível realizar a correção diretamente no controlador de impressão, nos casos em que se imprime transparências em impressoras grandes com processador de imagem dedicado.
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