Historiadores relatam que a serigrafia surgiu na China, entre os séculos XVII e XIX, e passou por uma grande evolução em meados do século XX. Durante o período da Segunda Guerra Mundial, os EUA decoravam a fuselagem de seus aviões com emblemas adquiridos pelo método da serigrafia, gerando, após o período, um grande interesse por parte dos europeus e o resto do mundo, que passaram a aproveitar a técnica para a publicidade e comércio.
Desta época até os dias atuais muita mudança ocorreu no segmento e, com o grande avanço da tecnologia digital, há de se presumir que o ramo da serigrafia se subverteu. Mas esta consideração deixa de ser válida se analisada a níveis econômicos. A serigrafia, além de ter um custo baixo em relação a outros processos de impressão, pode ser usada numa infinidade de suportes de impressão: plástico, papel, vidro, tecido, entre outros.
Seu princípio básico é a impressão de uma figura ou texto em uma superfície através de uma tela, chamada de matriz serigráfica.
Neste ramo, podemos mencionar mais duas etapas importantes que se somam à matriz serigráfica, são elas: arte-final e fotolito. Estas três etapas se completam e nenhuma é menos importante que a outra, tendo cada uma sua indispensável função, onde o resultado de cada etapa influencia na etapa seguinte. Dessa maneira, tal técnica propicia a finalização para uma impressão sem falhas.
Tudo começa com o designer criando a arte-final, que pode ser pelo sistema manual ou computadorizado.
No sistema computadorizado, o designer gráfico utiliza softwares como o Photoshop, Illustrator e CorelDraw para desenhar, processar e editorar a imagem. Após pronta, é feita a separação de cores, onde cada cor será gravada em uma matriz diferente e, quando estampada todas juntas, formarão a estampa colorida.
A próxima etapa é a produção do fotolito.
Vários fatores influenciam na escolha do tipo de fotolito, como o tipo de superfície onde vai ser feita a impressão final e o tipo de tinta a ser utilizado.
Existem quatro tipos de fotolito:
*Benday – Definido com pontos, linhas e traços. Cria-se sensação de tons mais claros ou mais escuros.
*Reticulado – Uso de meios-tons, dividindo a imagem em pequenos fragmentos (pontos).
*Combinado – Combina-se os dois tipos mencionados acima.
*Fotolito para quadricromia – Técnica que permite a reprodução de um desenho por meio de retículas, realizada através da sobreposição das quatro cores cmyk (cyan, magenta, amarelo e preto). Serão necessários quatro fotolitos para se criar a ilusão de diversas cores e tonalidades da estampa, não importando quantas cores tem a figura original.
A imagem real pode ser observada ao analisarmos uma imagem impressa com uma lupa profissional chamada conta-fios. Nela, podemos visualizar todos os pontos (retículas) que geram a figura através dos meios-tons. Podemos observar que quanto maior o número de pontos, menor é o seu tamanho, o que torna a imagem mais detalhada.
Porém, existe um tamanho mínimo deste ponto, que, se não for respeitado e dependendo do atrito gerado com o substrato no momento da impressão, pode fazer com que o detalhamento desapareça.
Quanto mais poroso o substrato que receberá a tinta, mais absorvente ele será, o que poderá causar um aumento no tamanho do ponto. Desta forma, deve ser calculada a quantidade dos pontos de retícula levando-se em consideração a capacidade de absorção do substrato, através dos valores de lineatura.
Existe uma tabela de percentual de abertura de cada tecido e, de acordo com as informações obtidas, o profissional responsável, quase sempre um engenheiro de produção, irá calcular a estrutura que vai caber numa retícula mínima, determinando o diagrama do ponto e fazendo gerar os meios-tons, necessários no ramo da serigrafia, pois a arte-final é uma imagem que, por ser em tom contínuo, não pode ser reproduzida diretamente.
É feita então, através da reticulagem, uma redução para chegar ao meio-tom. Assim, da imagem original obtém-se pontos, que poderão ser elípticos, quadrados ou redondos.
Na reticulagem convencional (AM), os pontos são de tamanhos diferentes dispostos em linhas. O controle da quantidade dos pontos determina a lineatura, medida em LPI (linhas por polegadas) ou LPC (linhas por centímetro). Além de escolher o posicionamento destes pontos, é determinada também a angulação em que estarão dispostos e, desta forma, obtém-se diferentes resultados.
Para evitar o efeito causado por mudanças bruscas de tons, também chamado de efeito moiré, criou-se novas formas de reticulagem, como é o caso da estocástica e a híbrida.
Na reticulagem estocástica (FM), os pontos são de tamanhos iguais e distribuídos de forma aleatória, aumentando o detalhamento das imagens e diminuindo o efeito moiré.
A reticulagem híbrida nasceu da necessidade de uma produção com maior estabilidade. É gerada misturando-se as duas retículas anteriores por meio de um algoritmo, denominado RIP, garantindo uma melhor qualidade de impressão.
Antigamente, o fotolito era obtido por meio do processo fotomecânico, com características semelhantes ao processo de fotografia. A arte-final devia chegar impressa, levada para câmara escura, fotografada e revelada em negativo. Depois desta etapa, era enviado à mesa de luz, onde devia ser retocado, para, enfim, através de exposição à luz ultravioleta, ser revelado o filme positivo. Estas etapas exigiam muito tempo, além de obrigarem o operador a manipular diretamente produtos químicos.
Atualmente, o processo é totalmente digital. Após definida a arte-final, esta é enviada diretamente do computador para um equipamento sofisticado chamado image-setter, que grava diretamente no filme, ponto por ponto, através da linguagem postscript, combinando lineatura (quantidade de fios por centímetro linear), ângulos de inclinação e resolução para se obter uma imagem perfeita sem erros nos registros das cores angulares.
Apesar do processo ser mais rápido e garantir alta qualidade, este equipamento tem um custo elevado e requer constante calibração.
Existem hoje no mercado empresas, chamadas bureaus, especializadas neste tipo de serviço, mas, dependendo da demanda e do tipo de produto a ser comercializado, o custo se torna alto, e parte dos serígrafos opta por imprimir seus próprios fotolitos.
Neste caso, a arte-final é impressa num filme transparente ou semitransparente, escolhido dependendo da impressora utilizada, que pode ser a laser ou jato de tinta.
Nas impressoras a laser, são utilizados dois tipos de filme: o papel vegetal ou o laser film. Já nas impressoras jato de tinta usa-se o poliéster, também chamado de acetato ou transparência, ou o clear film, que possui uma camada especial de primer que absorve a tinta. Este, por ser a prova d’água, é considerado a melhor opção.
Quando falamos de fotolito, não podemos deixar de mencionar como é feita a gravação na matriz.
Esta fase compreende várias etapas:
1 – Escolha do quadro: madeira, alumínio, ferro, auto-tensionável. O mais usado é o de alumínio que, apesar de não ter um custo muito baixo, a longo prazo se torna econômico pela durabilidade e estabilidade.
2 – Escolha do tecido: material do fio (o mais usado é o poliéster por sua estabilidade), quantidade de fios por centímetro linear (será determinada de acordo com a tinta a ser utilizada), tipo de fio (mono ou multifilamento), diâmetro dos fios, pigmentação e ligamento. Cada tipo de tecido será esticado de acordo com as recomendações do fabricante. Deverá também, a cada gravação, passar por um processo de limpeza com o uso de desengraxantes, os quais, além de limparem, prolongam a vida útil da matriz.
3 – Tipo de emulsão: à base de água ou à base de solvente. A aplicação da emulsão deverá ser feita numa sala com iluminação com lâmpadas de segurança amarelas, e a secagem deverá ser feita num ambiente livre de poeiras.
4- Foto incisão: a matriz, já com a emulsão totalmente seca, é colocada sobre o fotolito e receberá, por um período pré-determinado, a incisão de luz ultravioleta. Os pontos escuros no fotolito gravarão na tela espaços vazados, que serão preenchidos pela tinta na hora da impressão.
Sua matriz estará pronta para ser revelada, retirando, através de jato de água, a emulsão dos locais onde não houve incisão de luz.
A cada dia, mais e mais empresas têm apostado na produção e fornecimento de fotolitos para a serigrafia. Estas vêm se adaptando à demanda do mercado e trabalhando cada vez mais para uma melhoria e perfeita gravação da arte final na matriz serigráfica. A qualidade do fotolito é substancial para se chegar à impressão final sem falhas.
Mara de Paula Giacomeli
Jornalista e editora do jornal O Serigráfico
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