Hajime Otsuka nasceu em Guaimbê, uma pequena cidade do interior do estado de São Paulo. Filho de agricultor de café, cursou o ensino fundamental em sua cidade natal e o ensino médio de nível técnico em Marília, a cerca de 40 km de sua cidade.
O irmão de Hajime trabalhava em uma fábrica de brindes e, aos 16 anos, Hajime começou a trabalhar meio período nessa fábrica, iniciando então sua jornada no mundo da serigrafia.
“Eu fazia arte-final, foi onde tive o primeiro contato vendo a impressão em chaveiro de acrílico, impresso em serigrafia. Meu irmão era vendedor”, comenta Hajime. Era apenas o início de longos aprendizados no segmento.
“Saindo dessa empresa, vim para a capital com meu irmão Kazuo Fukuda quando ele foi trabalhar de vendedor na fábrica de tinta serigráfica Saturno Tintas, do Sr. Rudolf Ludwig. Na época, era na Avenida Santo Amaro. O Kazu, como era chamado por todos, orientava a revenda de tinta automotiva ou de parede para colocar a tinta de serigrafia na capital e em São Paulo. Na época, eu tinha 18 anos, viajava com ele e ajudava na orientação”.
Hajime não parou por ali e foi trabalhar como ajudante em uma loja de tinta automotiva e de artesanato.
“A empresa ficava na Lapa. Tinha aula de pintura em gesso, pintura a óleo em tela, pintura em tecido, e meu irmão adicionou a aula de serigrafia, pois a loja vendia material de serigrafia também. Eu ajudava orientando e, quando não tinha uma turma formada, eu fazia impressão de adesivo de PVC sem cola (adesivo com cola veio depois e era muito caro; Fasson e Jac eram os melhores, mas o adesivo de acetato era o mais utilizado). Eu fazia também impressão de brindes, carteirinha de foto, despachante e camiseta, que na época estavam na moda e vendiam muito.”
Com o sucesso, a dupla resolveu abrir uma empresa.
“Era uma empresa de serviços e acabou virando loja de material de serigrafia. Isso foi em setembro de 1978. Abrimos a empresa com o nome de Shopping Screen, com o sócio Luiz Augusto Fornes. No início, eu cuidava das gravações da tela e balcão da loja. O meu irmão era responsável pela venda externa e nosso sócio, Luiz Fornes, cuidava da compra e venda de materiais e da contabilidade. Nessa época, lembro que tinha pouca loja que revendia material e equipamentos de serigrafia. Pelo que me lembro, tinha a Auge, Coramet, Reprotécnica, Dubuit, Servscreen, Nela Tecido, Palácio do Silk Screen, LF Rodrigues, Serimatic, entre outras.
A Shopping Screen era referência na época para quem procurava informação sobre gravação de matriz e como aplicar tinta em diversos tipos de material.
“Era uma época diferente. Hoje tem tudo na internet. Naquele tempo, era difícil conseguir informação correta. Gravar uma boa matriz era só à base de tentativas e erros até conseguir uma matriz bem gravada. Impressão era somente o básico: colocar a tinta dentro da matriz e puxar o rodo. Com o tempo, fomos melhorando a técnica”, comenta o veterano.
Quem participa hoje da facilidade da era digital não imagina as dificuldades da época em adquirir conhecimentos.
“O impressor que tinha acesso à empresa tinha um bom conhecimento geral do processo de serigrafia. Era a pessoa que ajudava a resolver os problemas de gravação de matriz e da impressão. O meu compadre Pedro Luiz Basto Rodrigues trabalhou na empresa, que tinha todo o equipamento de ponta na época. Isso ajudou muito no meu conhecimento. Compramos livros europeus de silk screen, fiz parte da SGIA mais de 20 anos, fizemos assinatura da revista mundial ScreenPrinting por muitos anos, até chegar a era digital.”
Se alcançar um aprendizado já era difícil, trabalhar com os materiais disponíveis na época também impedia uma fluidez no dia a dia.
“Era comum na época usar o filme âmbar (cor amarela). Era recortado com estilete e em seguida colado na tela esticada com a malha escolhida, colado com tiner. Essa matriz só permitia usar tinta à base de água ou tinta sintética à base de aguarrás, e era preciso muita habilidade para recortar o desenho no filme. Mesa de luz era de luz fluorescente, e photo flood refletora de 250 ou 500 W com emulsão de bicromato era o que tinha para usar. Quando veio o diazo, não conseguíamos fazer a revelação, pois a fonte de luz era fraca demais e não tinha UV suficiente para revelar, então a opção era revelar ao sol, quando tinha, no quintal de casa. Nessa época, a gráfica já usava uma fonte de luz UV para revelar a chapa de offset, e a luz UV era gerada por dois eletrodos de carvão (arco voltaico). Quando eles encostavam um no outro, emitia uma claridade intensa como a luz de solda elétrica, e era assim que conseguíamos revelar a tela com emulsão com diazo. Esse carvão era importado da Alemanha, pois o nacional não tinha a mesma intensidade. Outro problema era a prensa de gravação. Tudo sobre equipa- mento de serigrafia era muito caro e isso dificultava a vida do serígrafo”.
Ambientando todas essas dificuldades com maquinários e produtos, Hajime passou a, juntamente com seu sócio, desenvolver equipamentos serigráficos para venda.
“A empresa Larese fabricava equipa- mentos gráficos. Foi quando o Vitório e eu começamos a desenvolver equipa- mentos serigráficos junto com o meu sócio, Luiz Augusto. Começamos a fazer berço para impressão em camiseta, garra simples e regulável, e em seguida prensa e reveladora, fonte de luz e impressora semiautomática e automática. Nas décadas de 70, 80, 90 e início dos anos 2000, tinha muita impressão para fazer em serigrafia e podíamos escolher uma área para fornecermos material”.
Hajime não parava de buscar conhecimento, pois almejava um futuro com sucesso.
“Os fornecedores de tinta e de insumo traziam técnicos da Europa e faziam palestras. Marcas que até hoje estão no mercado como Ulano, Nybout, Bautex, Flemplast, Saturno, Tec Screen, Autotype, Kiwo. Fiz um curso de fotolito preto e branco e colorido no Senai Mooca São Paulo na Theobaldo De Nigris. Nessa época, compramos uma ampliadora de fotolito da Elenco, fabricante de equipa- mentos para setor gráfico, o que facilitou muito o trabalho de arte-final. Eu visi- tei muitas empresas, pequenas, médias e grandes. Hoje, muitas já fecharam ou voltaram para o país de origem, principalmente eletroeletrônico e mecânica, que eram os meus melhores clientes.”
A empresa cresceu e permitiu que contratassem funcionários, dando também a oportunidade de abrir uma filial:
“Devagar crescemos fazendo matriz serigráfica, foi o que escolhemos fazer. Contratamos vendedores para fazer visita presencial, avaliar possíveis problemas, onde resolvíamos em seguida.
Aprendemos muito. Foi nessa época que abrimos uma filial em Santo Amaro e outra em Pinheiros. Porém, quando a crise chegou, fomos obrigados a fechar as filiais. As empresas existentes foram migrando para outros segmentos onde passaram apenas a comercializar e não fabricar mais o produto, importando da China já pronto. Com isso, perdemos clientes que usavam a serigrafia. As empresas que eram nossos fornecedores sentiram a queda das vendas e começaram a venda direta, prejudicando o trabalho feito pelos revendedores das regiões de SP e interior. Quando veio a pandemia, tivemos que encerrar a atividade no final de 2019.
Em 2020, abrimos outra empresa, Hana Matriz Curvada, menor e com menos custo, com meu irmão Naoki Otsuka, que já trabalhava comigo, com conhecimento também sobre serigrafia.
Especializamos em matriz diferenciada e normal.
Impressão digital veio na mesma época para ajudar a fazer a arte-final, o processo se tornou muito mais rápido. Antes, era tudo feito manualmente e demorava muito, atrasando a entrega das matrizes. A maior dificuldade era a fonte das letras e montar o texto alinhado como deveria ser. Com a evolução, algum trabalho que era feito em serigrafia passou a ser feito no plotter de recorte e depois veio o Inkjet, a impressão em banner e adesivos. A impressão serigráfica hoje é somente para poucas tiragens ou peças muito grandes que o cliente opta por impressão quando não quer usar adesivos. Já no setor de impressão em garrafas de vidro e plástico, ainda se usa muito a serigrafia, pelo baixo custo de impressão.”
Como um bom veterano na área da serigrafia, Hajime nunca deixou de insistir no crescimento da área e lamenta que seus filhos e netos não se interessem por esse nicho.
“Eu respiro serigrafia, ainda gosto muito de gravar a matriz, ver o resultado. Uma revelação da matriz requer saber o que cada material empregado nela está fazendo, cada cliente precisa receber uma boa matriz, de acordo com o produto; não pode padronizar sua matriz gravada. O que é bom para um cliente, para outro não funciona. Tudo que é revelado passa por uma análise usando o conta-fio; sem ele, não há matriz gravada de qualidade. Se notarmos algo que não está bom, regravamos. Hoje trabalho mais programado, ajudo na loja de bijuterias da minha esposa, Edilza Araújo. Meus três filhos, Rodrigo, Marcello e Victor, e meus dois enteados, Hamilton e Géssica, e dois netos, Luiza e João, não vão seguir o meu legado, por isso vamos colaborar aqui no jornal do Claudilei Simões de Sousa para ficar registrado para quem quiser consultar algo mais técnico sobre serigrafia.”
Carregando toda essa bagagem na área de serigrafia, o veterano orienta: “Para aqueles que estão iniciando na área, sigam a orientação de uma pessoa em quem você confie. Trabalhe com qualidade e com uma boa técnica. Não faça só para atender o cliente; se não puder fazer, repasse para uma empresa com mais experiência, faça uma parceria. Uma impressão feita com serigrafia é mais bonita e chama atenção. Escolha um tipo de produto e trabalhe muito no nicho escolhido, quem entra não sai mais. Usei muitos anos esta frase: ‘Uma boa impressão depende de uma boa matriz’.”
Hoje, com 66 anos, Hajime finaliza agradecendo a todos que fizeram parte de sua trajetória corporativa:
“São 46 anos nesta área, passou muita gente na minha vida, mas agradeço a todos por ter aprendido muito com os erros e acertos, usando material de qualidade para resolver qualquer tipo de problema dentro desse mercado que era carente de informação. No início, tivemos ajuda de várias pessoas a quem hoje agradeço: o Sr. Darcio da Fabricolor; Hélio Bianchini da Agabê; Vitório da Larese; Sérgio Horta da Tecnopaint, que também foi meu sócio na loja de Santo Amaro; Claudilei Simões de Sousa do jornal O Serigráfico; René Rodrigues da editora Sertec; Eurípedes de Almeida, da Tec Screen; meu ex-sócio Luiz Augusto Fornes, sua irmã Daisy Fornes e seu pai Luiz Fornes, pois graças a eles aprendi muito. Agradeço também a meu compadre Pedro Luiz Basto Rodrigues, que trabalhou na Saturno fazendo testes nas tintas antes de envasar e colocar à venda, e me ensinou muito sobre impressão”.
http://www.hanamatrizcurvada. com.br
#serigrafia-curvada
Email: hajimeotsuka@yahoo. com.br
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